Artigo de Andreas Quast, traduzido do excelente site RyuKyu Bugei.
Projeções e chaves no Karate são o assunto do momento, com razão. Ao discutir o tema, a perspectiva geralmente é a do executor da técnica (tori 取): ele aplica chaves e projeções.
Mas o que fez o atacante inicial e receptor final da técnica (uke 受)? Mais especificamente, o que dizem as fontes iniciais que ele faz?
Conforme o livro de Funakoshi de 1925, as projeções (nage-waza 投技) que ele apresentou lá foram exclusivamente projetadas contra golpes.
Em cada um dos seis casos de projeções descritos por Funakoshi em 1925, o oponente ataca se lançando para frente. Isso é feito com uma mão ou com ambas as mãos. Não há ataque onde uke usa chaves e projeções para atacar tori.
Para ilustrar o exposto acima, escolhi duas técnicas entre as chamadas “9 Projeções de Funakoshi”. Para isso, usei o texto da edição de 1925, enquanto para as fotos usei a edição de 1935, pois elas ilustram mais claramente a sequência das técnicas.
- Torção e Virada (neji-taoshi 捻倒) O oponente se lança para frente com uma investida direita (1a). Receba isso com um Ura-uke direito (1b). Simultaneamente, agarre o braço do oponente com a mão esquerda e, enquanto puxa o pé esquerdo para trás (2a), pressione-o contra o chão.(*2)
Aliás, uma técnica similar foi mostrada pelo holandês Nicolaes Petter em 1674.
- Argola Encadeada (kusariwa 鎻環) O oponente se lança para frente com ambas as mãos na altura do rosto (1a); desvie com ambas as mãos para o nível superior (1b). Aplique ataque tesoura (2). Pule na frente do oponente e aplique o anel de braço (3).
Portanto, parece que as chaves e projeções do Karate – pelo menos a partir da fonte citada e naquele momento – eram exclusivamente projetadas contra golpes. Se o Karate deve cumprir seu papel como uma arte de luta corpo a corpo, ele precisa incluir projeções e chaves como métodos de ataque, assim como os sistemas Judô e Jiu-Jitsu sempre fizeram.
Embora isso seja feito no Karate de qualquer maneira – e não é novidade – a prova histórica ainda é superficial, como pode ser visto na descrição de Funakoshi acima citada. Rigorosamente de acordo com esta fonte, o Karate na época usava chaves e projeções, mas não as usava como métodos de defesa contra ataques. Os métodos de defesa eram golpes e chutes. Talvez fosse a isso que Mabuni se referia quando disse:
Ao falar em chaves e projeções, eles [os praticantes de Karate em Tóquio] presumem que só existem no Jiu-Jitsu e Judô. Essa forma de pensar é extremamente contraproducente em relação ao próprio Karate e só pode ser atribuída à falta de conhecimento.
Do ponto de vista da pesquisa, há outra coisa interessante a notar que foi omitida na edição Funakoshi de 1935 e, portanto, também na tradução em inglês dela: as técnicas apresentadas na edição de 1925 aqui foram explicitamente descritas como aplicações de Katas específicos.
A primeira é descrita como uma “técnica do Naihanchi Shodan transformada (para uso prático)”. A segunda é descrita como uma “técnica do Passai transformada para uso prático”.